
A atual situação do País aumenta as chances de o tema ser discutido de forma mais ampla. E, se o Brasil aproveitar a oportunidade para fomentar de verdade a Previdência Complementar, irá ganhar de várias formas com isso: a Previdência Social deixará de ser cobrada da maneira como é hoje pela preservação da renda na aposentadoria e o seu déficit tenderá a cair, ao mesmo tempo em que a economia ganhará, à medida em que o regime de capitalização formar reservas maiores, um extraordinário reforço em sua taxa de poupança, que se tornará mais estável e ganhará meios de crescer no longo prazo, ficando disponível para empresas e projetos demandantes desses recursos. Na América Latina, o Brasil hoje só poupa mais que um único país, a Guiana, revela um estudo recente, observa o Presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto.
É agora
Os estudiosos do tema não tem dúvidas de que o momento de enfrentar o tema é agora.
Os estudiosos do tema não tem dúvidas de que o momento de enfrentar o tema é agora.
Há quem pense, como José Ribeiro, que na verdade o Brasil está até mesmo um pouco atrasado, essa discussão já deveria ter sido travada de forma muito ampla e encaminhada na direção de medidas que se tornam a cada dia mais indispensáveis. “Mas, mesmo que não tenhamos agora uma reforma com a amplitude desejada, que ela venha ao menos paramétrica como muitos acreditam, mais pontual do que geral, pelo simples motivo de que é melhor alguma coisa do que nada”, sintetiza José Ribeiro.
Lembra o Presidente da Abrapp que o País conta nessa discussão com o acervo de conhecimentos formados pela previdência complementar fechada, que forma um sistema sólido e dotado de gestão avançada, governança moderna e base legal e normativa equiparada às melhores do mundo.
Ônus maior
E um argumento que parece definitivo para fazer a reforma andar: “quanto mais demorarmos a fazê-la, maior será o ônus lá na frente, o custo para as próximas gerações”, alerta José Ribeiro.
Os especialistas assinam embaixo. Nilton Molina, um dos maiores conhecedores do tema e membro do Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), onde é representante titular de patrocinadoras e instituidores de planos, afirma “ser preciso abrir espaço para a Previdência Complementar”.
Outro conhecedor também sublinha a urgência que o País tem de fazer algo a respeito. “Não se pode adiar mais o momento de se apresentar o problema para a sociedade e já começar a se fazer algo a respeito, tomando as primeiras medidas enquanto se discute a proporção que a reforma da Previdência precisará tomar no futuro”, analisa o advogado Flávio Martins Rodrigues, do Escritório Bocater, Camargo e Costa e Silva.
No entender de Molina, algo sobre o que o País precisaria pensar melhor é a respeito da cobertura hoje a seu ver muito elevada que a Previdência Social oferece. Atualmente, perto de 90% dos brasileiros que formam a força de trabalho ganham abaixo do teto do INSS, o que significa dizer que o público a que se destina a Previdência Complementar corresponde a não mais de 10% dos trabalhadores. No mundo isso não é assim. A experiência internacional, pelo contrário, consagra um modelo de previdência estatal mais básica, cabendo aos pilares complementares a tarefa de atender a demanda de uma parcela muito maior de pessoas, incluindo os estratos médios iniciais da população.
“No Brasil, o INSS não deveria ir além dos 2 ou 3 salários mínimos”, resume Molina, chamando a atenção para o muito que o País teria a ganhar com isso. No lugar do regime de caixa, onde não há acumulação de recursos para pagamento do benefício no futuro, uma parcela muito maior da população passaria a contribuir dentro do regime de capitalização, onde reservas acumuladas ao longo de décadas ficam disponíveis para investimentos na economia.
E o caminho para fomentar o sistema de fundos de pensão é claro, a começar dos incentivos que devem ser dados às empresas e trabalhadores que formam poupança ao longo de décadas. “Pessoas jurídicas que pagam o imposto no lucro presumido não recebem qualquer estímulo. É preciso mudar isso, da mesma forma como se pode muito bem pensar em aliquota zero para o participante de plano que poupa, por exemplo, por mais de 15 anos”, nota Molina.
“Maior flexibilidade, incentivos e menor custo, é disso que a previdência complementar fechada precisa para crescer e ajudar muito mais ao País”, observa.
Flávio Martins nota que este momento, de discussão prévia à proposta de Reforma, deve ser utilizado para que a sociedade brasileira reconheça a importância e os benefícios do regime de 3 pilares. “Como é o padrão nos países de melhor organização previdenciária, ganha-se com a diversificação de regimes. Estes devem se somar e trazer maior reposição de renda. Com isso, evita-se, no longo prazo, a demanda por se conseguir isso através dos regimes públicos, e tem-se um vetor de poupança interna de longo prazo”.
Pensando na perenidade e ampliação do modelo de 3 pilares, Flávio Martins prega ainda que o atual modelo brasileiro de incentivo tributário aos regimes complementares seja consolidado no próprio texto da Constituição. “Hoje está na lei, mas não na Constituição. Precisamos de regras perenes para a previdência complementar”, resume ele.
Ele também defende que o incentivo à contribuição patronal independa da forma de tributação que incida sobre a pessoa jurídica. “Pode ser lucro real ou presumido, simples ou super simples, o importante é que a empresa seja estimulada a contribuir”, defende Flávio Martins
Diário Abrapp